terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ecos de um longo fim-de-semana

Meu humor não anda dos melhores, como meus exíguos leitores já puderam perceber pelo clima sombrio dos últimos posts. Quando eu estou assim, muita coisa me incomoda. Muito mais do que o normal, que já não é pouco.

Como a passagem do ano é tempo de expurgar o que aconteceu de ruim no ano que passou, vou começar pelos pequenos aborrecimentos extremamente irritantes por quais passei nos últimos dias.

Por onde posso começar...

Sim! Pessoas e seus adoráveis rebentos. É sempre um ótimo tema para discussões.

Pessoas levam seus rebentos a TODOS os lugares onde vão. Apesar da humanidade já nos ter brindado há um tempão com brilhantes invenções como avós, creches, babás e vizinhos pedófilos, pessoas ainda continuam querendo levar os filhos encangados a todos os lugares, mesmo naqueles aonde claramente não serão bem vindos. Neste caso, estou falando especificamente do boteco onde frequento.

Vamos deixar bem claro. Não é um grande boteco. A cerveja não é tão gelada como poderia. E, acreditem, ela às vezes acaba, como aconteceu há poucas horas. A música, se deixarmos exclusivamente aos cuidados do dono e de seus dedicados funcionários, é simplesmente ultrajante. A culinária oferecida é até limpinha, mas diminui minha expectativa de vida na inversa razão de um pra cinco: cada dia que eu como lá são cinco a menos que permaneço nesta encarnação. Resumindo, o lugar tem vários defeitos. Mas é o MEU boteco. Eu o escolhi. Eu e mais um bando de outros bêbados que por lá perambulam todos os dias. Por isso, deve ser respeitado.

Depois desta breve explanação, vocês acham que aquele é um lugar salubre para se levar uma criança? E duas, ou três? A resposta é um peremptório NÃO.

Pessoas fazem leis para proibir fumo em bares. What the fuck. Se eu não for fumar num bar, vou fumar aonde? Beber fumando é uma tradição milenar; além de ser uma das melhores maneiras socialmente aceitáveis de se cometer suicídio. Que monstruoso cérebro do mal pode sequer imaginar em proibir uma coisa dessas?

Mas, crianças no bar, isso pode. Alguém pode me sugerir melhor maneira de criar futuros alcoólatras do que deixar crianças verem pais e amigos dos pais se esborrachando de se divertir enquanto consomem quantidades industriais dos mais variados e coloridinhos tipos de birita?

Mas claro que meus motivos não são assim tão nobres. Caguei se quiserem criar uma inteira geração de cachaceiros incorrigíveis. O que eu não quero é ser incomodado no meu santuário. Se eu quisesse compartilhar meu espaço com moleques mal-criados, barulhentos, pegajosos e pouco inteligentes, eu teria tido os meus próprios filhos.

Sendo assim, caros colegas de bar: em nome do bem da comunidade etílica, mantenham sua doce prole longe do boteco.

Próxima vítima: pessoas nanicas e seus poderosos guarda-chuvas.

Chuva e Rio de Janeiro já não combinam muito. Esta é uma cidade solar. Combina com verão, corpos atléticos semi-nus e coisas do gênero. Quando chove por aqui, a cidade fica mais triste. E eu muito mais, se tiver que andar na rua.

Quem me conhece sabe que não sou alto. Tenho 1,75m. Se eu fosse norte-americano, seria praticamente um anão. Aqui, sou maior que a maioria, tanto pra cima quanto para os lados. O que isso tem a ver com chuva, perguntariam vocês, se estivessem minimamente interessados?

Explico. Pessoas normalmente não gostam de se molhar quando estão vestidas. Estas mesmas pessoas precisam sair de casa, mesmo quando está chovendo. Daí, pessoas usam seus guarda-chuvas. Infelizmente, não é exigido qualquer tipo de habilitação para se usar um guarda-chuva. Qualquer pessoa se acha perfeitamente capaz de usar um guarda-chuva. É muito simples, certo? É só abrir, segurar pelo cabo, levantar a cobertura por sobre a cabeça e pronto. É só sair fazendo qualquer coisa que você faria sem aquela coisa enorme e com hastes pontiagudas em toda à sua volta como se ela não estivesse ali, que está tudo certo. Bem, não. Não está tudo certo.

Vocês já viram velhinhas caminhando com seus guarda-chuvas? São uma potencial arma de destruição em massa. Velhinhas - na verdade são todas as pessoas baixas, as velhinhas, por várias razões, só estão no topo da pirâmide neste caso - não entendem que seu espaço pessoal se altera quando estão portando guarda-chuvas. Seu diamêtro fica maior. Mas a visão espacial dos baixinhos, e em especial das velhinhas, não consegue alcançar esta realidade.

Aí vem o agravante: alguém aí conhece uma velhinha com mais de um metro e sessenta?

Eu tenho uma teoria: a Gisele Bundchen tem 1,79m. Quando ela estiver com sessenta e cinco anos, vai ter no máximo 1,58m. Podem apostar. Quem viver, verá.

Qual a triste conclusão desta infeliz combinação de fatos aparentemente aleatórios? Cada velhinha e seu guarda-chuva representa uma séria ameaça à integridade física de todas as pessoas com mais de 1,70m. Em especial, aos olhos destas pessoas. Depois me sacaneiam porque não tiro meus óculos escuros, mesmo na chuva. Não fosse eles, já estaria de tapa-olho, ou pior, de bengala e cão-guia, há muito tempo.

Sofro tentativas de agressão por parte destas doces senhorinhas em cada rua onde ando, em cada esquina que eu dobro. Minha treinada esquiva já é quase igual a de um boxeador profissional. Quando chove, chego a meus destinos exausto, só pelo esforço extra de tentar continuar enxergando pelos dois olhos. E não adianta ir pela marquise. Por alguma razão inexplicável, pessoas com guarda-chuvas nunca acham que estão protegidas o suficiente de serem molhadas. É como se os pingos fôssem de ácido sulfúrico. Elas querem, mais ainda, elas precisam, andar com suas sombrinhas debaixo das marquises, por mais estreitas que as marquises sejam. E fodam-se as pessoas sem guarda-chuvas, que supostamente deveriam ter prioridade sobre as marquises, só para evitar que peguem pneumonia tripla. Quem manda não comprarem um guarda-chuva?

Última vítima do dia, prometo, senão este vai virar o maior post da história dos blogs:

O pobre e seu automóvel.

Pobre e automóvel não deveriam compartilhar sequer a mesma frase. Pobre mal tem condição de calçar os dois pés, quanto mais de andar sobre quatro rodas.

Como diria Ben Parker, sábio tio de Peter Parker, a.k.a. Homem-Aranha: grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Mas pobre, que não tem dinheiro pra ver o filme do Homem-Aranha nem em VHS, não sabe disso. E saem a comprar seus carros usados em 60 vezes sem juros nas Casas Bahia.

São grandes os malefícios do Carro de Pobre. Primeiro, eles são velhos. Muito velhos. Trinta anos em média. Isso é muito, em idade de automóvel. Melhor se tivessem sessenta anos. Virariam antiguidades, e o pobre não seria mais tão pobre. Mas não funciona assim. Carro de pobre é velho, e está em estado terminal. Por isso eles quebram. Constantemente. Em todos os lugares. Prejudicam o trânsito. Poluem mais o meio-ambiente. Fazem mais barulho, são mais feios, mais inseguros. Ainda assim, são profundamente amados. Por quem? Apenas por seus pobres donos. Mas quando morrem - os carros, não os donos - são impiedosamente abandonados nas ruas da cidade, onde não serão recolhidos durante anos, eliminando assim preciosas vagas de estacionamento que poderiam estar sendo utilizadas por carros saudáveis, de pessoas com reais condições sociais e financeiras de ter um destes.

O meu problema em especial é com um feliz detentor de uma kombi que deve ter sido fabricada no ano em que eu nasci, ou pelo menos na mesma década. Só que estou num estado um pouco melhor que ela, a despeito do descaso que tenho com a minha manutenção.

Ele sai cedo para trabalhar - problema este que aflige nove em cada dez pobres com fonte regular de renda. Quando eu digo cedo, entendam, ele sai para trabalhar quando eu estou começando a dormir. Todos os dias, inclusive nos domingos e feriados religiosos.

Seu poderoso meio de locomoção, que acredito seja também seu principal instrumento de trabalho, tem, digamos, um pequeno problema para começar o dia. Ele, assim como eu, deve ser mal da idade, demora um pouco a acordar.

Quando dá assim, mais ou menos, quatro e meia, cinco horas da manhã - olho no relógio e vejo que está na hora, onde estará este doce de pessoa? - nosso amável motorista tenta, sem sucesso durante pelo menos vinte minutos, fazer sua kombi pegar. Mas ela é manhosa. E muito, muito barulhenta.

Temos vizinhos que não são tão pacientes como eu. Na quinta ou sexta infrutífera tentativa, começo a ouvir os impropérios. Nos fins de semana eles ficam mais agressivos. Ouço sons de vidros e madeira sendo espatifados. Tenho quase certeza que ouvi tiros certa vez. Mas pode muito bem ter sido no morro. Talvez.

No último domingo este rapaz se superou. Além da tradicional luta para fazer a kombi pegar, parece que ela teve um probleminha extra: não queria andar. Isso exigiu que o moço ficasse acelerando e acelerando e tentando encaixar a marcha e acelerando, ruidosamente, durante um longo, longo tempo. Não sei quanto tempo. Não sei se desistiu. Ou se conseguiu fazer a bicha andar. Desfaleci no meio do processo.

Já são quase cinco horas e ele ainda não apareceu. Acho que alguém resolveu tomar uma atitude mais definitiva do que apenas escrever sobre o cara num blog.

Um bom dia a todos.

Um comentário:

  1. Meu querido Amigo e XARA ... Que inspiração é essa ??? Haja disposição para tantas letras ... hehehehe !
    Agora deixa eu comentar uma coisa sobre outro post ... : 80% nem em ditadura !
    Eita aninho sem vergonha esse ... foi tarde !
    É menos um pra esse molusco se despedir ! Abç AG

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