quinta-feira, 25 de março de 2010

Império do Primor

Em tempos de futebol show e retumbantes goleadas realizadas pela equipe do Santos e seus Meninos da Vila, é interessantíssimo assistir às atuações minimalistas da dupla Império do Amor. Enquanto os moleques da praia paulista se esfalfam em firulas, dribles desconcertantes, jogadas de alta plasticidade visual e num volume de jogo, de ataques e de gols que impressionam, a dupla Love e Adriano é cirúrgica, cerebral, quase cruel. Se fôssem músicos, os garotos do Santos seriam o Ney Matogrosso; a dupla do Fla, João Gilberto. Ambos geniais, cada qual em seu estilo. Depois de serem trucidados pela imprensa esportiva, policial e de celebridades por questões de foro exclusivamente pessoal, a poderosa frente rubronegra parece inteiramente desinteressada em dar espetáculo, ou em fazer carretos de gols. Tudo o que ela pretende, e o realiza com uma simplicidade e pragmatismo que só os extra-classe conseguem, é ganhar do adversário da maneira mas prática e eficiente possível, sem qualquer dispêndio desnecessário de energia. Faz gols bonitos, sim, como o segundo de ontem contra o Tigres. Mas apenas porque é absolutamente necessário que assim o seja, senão a bola não entraria. E as comemorações? Nem parece que acabaram de marcar um gol; parece que bateram sua cota de vendas. Sobriedade e discrição é o lema deles, pelo menos dentro das quatro linhas. E esse tipo de comportamento em campo parece estar funcionando muito bem, obrigado. São vinte um gols só no Campeonato Carioca, onze de Love, dez de Adriano, os dois disputando o topo da tabela de artilharia. Pena que o Império do Amor tem data de validade, de junho não passa. Aproveite-mos, pois, estes breves momentos de rara eficiência na arte de colocar a bola dentro das redes.

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