sábado, 6 de março de 2010

Imperador de cu é rola

Honestamente, perdi minha paciência com o Adriano. Acho que ele já cumpriu sua etapa aqui com maestria; nos tirou de uma fila de 17 anos no Brasileiro, foi artilheiro do campeonato, e colocou o Fla de volta à todas as páginas de esportes de sites e jornais mundo afora. Muito obrigado por tudo. Acho que já é hora dele procurar outros ares. Não pela bola que joga, óbvio. O cara está a anos-luz de qualquer outro pobre mortal que jogue bola neste país (exceto, talvez, de um certo gordinho que anda habitando as plagas de Sampa). Mas o homem é uma usina de problemas. Ele simplesmente não consegue se afastar deles. É problema com treino, com mulher, com bolha, com a Itália, com a seleção. O sujeito adora um problema. E, cíclope que é, seus problemas assumem dimensões igualmente ciclópicas. Até aceitaria com um pouco mais de compreensão se ele mantivesse os problemas dele restritos a ele - e à imprensa, que adora seus escândalos. Mas nesse último ele ultrapassou os limites da minha infinita complacência. Arrastou dez - sim, dez - jogadores do Flamengo para um baile funk no Complexo do Alemão com direito a escarcéu e baixaria da pior qualidade da pistoleira que ele chama de namorada. Talvez ele não se importe, até porque tinha ganho de presente o fim de semana de folga. Mas o Flamengo joga hoje pela Taça Rio. É claro que ele não é responsável pelos atos irresponsáveis dos dez marmanjos que foram acompanhá-lo neste programa de gosto extremamente duvidoso. Mas o mínimo que ele podia fazer é tentar poupá-los do turbilhão de emoções que ele insiste em carregar por todos os lugares onde vai. Resultado da brincadeira: está fora do time quarta, contra a baba venezuelana, pela Libertadores. E o Fla entra hoje em campo sabe-se lá com que motivação. Se as duas últimas partidas já foram duríssimas de se ver, tal a indolência com a qual o time entrou em campo, o que dirá na de hoje. Já mandei separar meus antiácidos porque sei que vou precisar deles mais tarde.

Para concluir: acho que Adriano vai mais atrapalhar do que ajudar agora por alguns outros fatores, além da sua inequívoca vocação para atrair confusões e maledicências.

Seu foco claramente é a Copa do Mundo, e provavelmente um retorno triunfal, no segundo semestre, para a Europa. Para um atleta normal, isso poderia servir como fator altamente motivador para que o cara tratasse de mostrar serviço, se comportasse de maneira exemplar dentro e fora dos gramados, entrasse em campo na ponta dos cascos e dando o máximo, para que nem em sonhos Dunga pensasse em substituí-lo por outro atacante. E, vamos combinar, o treinador da seleção tem uma plêiade deles de ótimo nível para escolher. Para Adriano, isso claramente não funciona assim. Ele distrai-se e perde a motivação muito facilmente. O tal foco, como gostam de dizer por aí, Adriano não tem. É o rei da digressão. Se ele quer a Copa, ele pensa nela, mas acredita que apenas pelo fato de ser uma entidade superior às outras ele estará lá naturalmente, pois está escrito nas estrelas. E a coisa não funciona assim, ainda mais com um casca-grossa como Dunga, um disciplinado e disciplinador por definição.

Outra questão, esta que afeta mais ao rubro-negro do que Adriano himself, é sua influência, que pode ser positiva ou negativa, sobre o grupo. Como força da natureza que é, tudo que Adriano diz e faz afeta os que estão à sua volta. A ausência de Adriano (e esta ausência vai se fazer cada vez mais presente quanto mais a Copa se aproximar) pode causar baques psicológicos devastadores no time do Flamengo. Dois maus resultados sem ele no time, seguido de um bom com ele lá, e lá se vai a autoconfiança do resto do grupo pra casa do caralho. A imperador-dependência é tudo que este time não precisa agora, em meio à disputa da maior competição das Américas. Por isso preferia, sinceramente, que ele desse seu ciclo no Fla por encerrado. O time ia ter que aprender na marra a jogar sem ele numa etapa ainda relativamente simples da competição e, se passasse daqui, chegaria mais fortalecido às próximas fases.

Mas é óbvio que isso não vai acontecer, e ele vai ficar enrolando aí até o término de seu contrato. Diferenciado como é, vai fazer a diferença em alguns jogos, faço votos que seja em momentos decisivos e importantes. No mais, é colocar a equipe de psicólogos do Fla para trabalhar a cabeça do time. A do Adriano, deixa pra lá, essa não tem mais jeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário