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Estava eu ontem na Drogaria Pacheco fazendo uma pequena compra de artigos para uso pessoal, tipo desodorante, espuma de barba, coisas do gênero, quando me deparei com a prateleira de cotonetes.

Abro agora um parênteses que os ajudará a entender minha questão aqui. Amo cotonetes. É estatísticamente improvável que alguém encontre qualquer vestígio de cera em meus ouvidos. Eu uso cotonetes todos os dias. Às vezes mais de uma vez ao dia. Já me disseram que nem é bom isso, não me lembro exatamente o porquê, não dei muita atenção ao conselho. Não é que eu tenha alguma obsessão pela minha limpeza auricular. Eu simplesmente adoro passar cotonetes no meu ouvido. É uma sensação gostosa, única. Eu e me ouvido, lá, em comunhão, por intermédio do cotonete. É um momento meu, entendem? Dito isto, volto a meu caso.

Normalmente uso um cotonete baratex, de caixinha, fabricado por uma dessas empresas xing ling, que vende até em camelô. Para o que necessito, sempre satisfez plenamente minhas necessidades. Mas não ontem. Senti-me perdulário ontem. Dizem que homens apaixonados perdem um pouco do apreço pelo seu próprio dinheiro. Talvez seja o meu caso. Resolvi deixar meu xing ling de lado e optar por uma coisa mais classuda. Vi um potinho, que imediatamente imaginei ficaria ótimo na pia do banheiro, de cotonetes Johnson & Johnson. “Seguros e absorventes”, dizia a embalagem. Fiquei irresistivelmente atraído por este slogan, e me propus a pagar os R$ 3,99 exigidos em troca do produto. Mas sou um homem de números. Rapidamente fiz uma pequena continha em minha cabeça. R$ 3,99 por 150 cotonetes, sobe lá, cai aqui, dá quase 0,27 centavos a unidade. O xing ling custa, ali na farmácia, onde é vendido mais caro, módicos R$ 1,19. Para cem cotonetes, no entanto. Esta conta é mais fácil. Dá aproximadamente 0,12 centavos a unidade. O J&J custa 2,25 vezes mais caro que o xl. Claramente eu estava ali optando pelo BMW dos cotonetes. Fiquei feliz por poder adquirir algo assim tão top de linha. Coloquei-o orgulhoso na cestinha e fui para casa.

Meu banho foi mais rápido do que deveria. Estava ansioso para usar meus novos cotonetes. Negligenciei a limpeza do resto todo de minha nada pequena área corporal para beneficiar, cuidadosamente, minhas delicadas e queridas regiões auriculares. Iria, afinal, fazer uma limpeza de 0,27 centavos, não era pouca merda. Peguei, trêmulo, o potinho. Não foi muito fácil romper o lacre. Aquilo me excitou ainda mais, nada como uma boa dificuldade para aumentar nosso interesse. Quando finalmente abri a embalagem, olhei gulosamente para aqueles 150 pedacinhos de paraíso. Não queria escolher um a esmo. Peguei aquele que me pareceu especialmente suculento. E o levei, lentamente, à minha orelha direita.

Percorri o caminho habitual, sentindo aquele coceirinha que tanto me agrada. Mas alguma coisa de errada aconteceu. Senti um pequeno arranhão. Parei imediatamente. Eu já sabia o que era aquilo. Já havia acontecido comigo antes. Acho que acontece com todos nós, alguma vez na vida. Meu cotonete acabara de broxar.

Explico. Para mim, um cotonete broxa quando, na hora do uso, seu algodão se desfaz durante o ato da limpeza. Imperdoável para um cotonete, isso. É o fundo do poço da vida de um cotonete. Venhamos e convenhamos, um cotonete não tem muito mais utilidades do que limpar coisas com suas cabecinhas de algodão. Estas cabecinhas, portanto, precisam funcionar perfeitamente, sob pena de não podermos considerar aquele palito ali, com um algodão na ponta todo desfiado, um cotonete de verdade.

Simplesmente eu não podia acreditar que meu cotonete BMW, ou melhor, Johnson & Johnson, tinha feito aquilo comigo. Pode ser um problema só de um lado, pensei. Um erro raríssimo de fabricação. Troquei de lado. Apliquei-o novamente. Mesmo problema.

Decepcionado, nem insisti com outro cotonete do pote. Fiquei arrependido de ter trocado meu potente xing ling pelo encanto falso de uma embalagem bonita, de um nome mais importante.

Moral da história: nem sempre ser mais rico e mais bonito lhe assegura uma melhor performance. Agora com licença que eu preciso passar em uma farmácia.