segunda-feira, 20 de abril de 2009

Chegamos de novo

Ouvi algumas pataquadas esta semana sobre a final da Taça Rio. Em especial duas teorias cósmico-conspiratórias, conflitantes em sua previsão, que dividiram as opiniões abalizadas, ponderadas e totalmente imparciais dos torcedores cariocas.

Os que achavam que daria Botafogo tinham como base uma totalmente infundada, descabida e desprovida de qualquer lógica afirmação que o Flamengo "pagaria o pato" pelo vexame da quinta-feira - a patética eliminação do Foguinho, num Vazião nem tão vazio assim, contra o Americano, pela Copa do Brasil. Os jogadores "estariam se guardando" para o embate contra o Mengão. Diante do que aconteceu ontem, desnecessário tecer qualquer outro comentário sobre esta tresloucada alucinação canina.

A segunda teoria foi encampada tanto pelo arco-íris quanto por parte na nação rubronegra. Esta, pelo menos, possui alguma ligação com o mundo real. É baseada na ganância e no instinto de sobrevivência humana. Porque desperdiçar duas partidas finais, e por consequência duas poderosas fontes de arrecadação, em tempos tão bicudos? Difícil argumentar sobre tal lógica aparentemente irrefutável, fôsse a lógica que regesse o futebol, não a paixão e o imponderável.

O que se viu no jogo derruba as duas teses levantadas acima.

A partida de ontem tinha tudo para ser clássica. Casa cheia, tarde de almanaque, uma decisão de título entre dois bons times que se equivalem e mantêm entre si uma acirrada rivalidade recente - decidiram três dos últimos três campeonatos cariocas. Só faltou uma coisa: o bom futebol, que parece não ter sido convidado para a festa. O duelo de ontem foi entre um time com muita vontade de ganhar, mas que não sabia como, contra um time com muita vontade de ganhar, mas com medo demais para conseguir. As defesas superaram em todos os momentos os ataques; tanto, que o gol que decidiu o jogo veio de fogo amigo. Um volante de marcação e um zagueiro - William e Fabio Luciano - foram os melhores em campo. Os dois goleiros poderiam sair do jogo direto para jantar com as esposas no Antiquarius, de tão limpinhos que estavam. Não fizeram uma sequer defesa mais difícil. A pelada se arrastou por noventa minutos numa correria sem qualquer efeito prático. O excesso de covardia do Botafogo quase foi premiado duas vezes: uma com Maicosuel, que ele meteu na trave, e outra com Vitor Simões num contrataque mortal que ele matou numa conclusão totalmente bisonha. Seriam as duas coisas mais próximas a um gol durante o jogo todo não fôsse o ridículo feito do Emerson zagueiro, que, num momento de ausência, talvez achando que era o homônimo adversário, deu uma canelada para o gol que decidiu o título do segundo turno.

Agora, como bem gosta de lembrar os flamenguistas, deixaram chegar. Time por time, tudo pode acontecer, ambos se equivalem, por razões opostas. O Fla tem um sistema defensivo melhor - goleiro, zagueiros, volantes e meias, todos melhores que os do Botafogo. O banco do Fla também é superior, o que dá ao time mais opções. Mas o Bota tem um ataque muito mais rápido, habilidoso e eficiente. Tem favorito ao título? Tem. O Flamengo.

Sabem porquê? Por que o Botafogo têm um medo que se péla do Flamengo. Vimos isso claramente no Maraca ontem. O Fogo foi um time minúsculo, acuado, acanhado, cuja única ambição era decidir o jogo num contrataque fortuito causado por um eventual erro do gigante rubronegro. O trauma que o Flamengo infligiu à turma de General Severiano nos últimos anos
parece impedir que os botafoguenses encarem os rubronegros como seus iguais. Para eles, somos a representação do Mal. O Golias, que, por algum milagre bíblico, ainda há de ser derrotado pelo injustiçado Davi. Além disso, dão como certa que nossa flagrante superioridade advém de uma poderosa conjunção de forças maléficas que envolvem a Imprensa, o Governo, o Mercado e os Interesses Escusos. Sendo assim, para eles, jogar contra o Mengão não se resume a uma simples disputa entre dois times com onze jogadores de cada lado. Transformou-se num desafio de dimensões épicas, quiçá transcedentais, cuja fragilidade de seus espíritos os tornam incapazes de suportar, que dirá de superar.

Dito isto, declaro que volto oficialmente a acreditar no penta tri. Só um desastre, ou o milagre bíblico supracitado, nos tirará este título. Título que trará embasamento numérico ao que todo mundo já sabe há pelo menos trinta anos: somos o maior do Rio, o grande predador, o macho alfa da alcatéia local.

Um comentário:

  1. Resumindo ... Final de campeonato com o Flamengo e sinal de bolso cheio, algumas contas pagas, sálrios em dia (ou quase), corruptos feleizes, e a cidade mais segura e também feliz ... tai a lógica reinante ... !

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