segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Nuncaantesnahistoriadestepaiz houve evento como este

Há 25 anos, no distante 11 de janeiro de 1985, a esta mesma hora, quase meio-dia, eu me preparava, em estado de completa euforia e expectativa, para ir a um lugar do qual jamais me esqueceria. Estava no quartel, havia acabado de tirar serviço. Coturno, calça de campanha, camisa de malha Hering, cabelo e barba de dois dias, lá fui eu pegar o busum para me dirigir à Cidade do Rock. Havia finalmente chegado o dia que esperava há meses, desde que foi divulgado que, pela primeira vez na história, um festival de rock de primeira grandeza aconteceria aqui por estas bandas. Na porta do meu armário, no vestiário do quartel, havia um enorme poster-calendário, com um grande "EU VOU" no título e abaixo uma contagem regressiva dos últimos trinta dias que antecediam o "hoje". Pouco importava quem ia se apresentar mais à noite. A cidade respirava o festival, a impressão que tínhamos é que todo mundo ia estar lá. Mas a noite era sim, de gala. Hoje era dia de, simplesmente, Queen e Iron Maiden. E de quebra, dos desconhecidos Whitesnake, para muitos a grande surpresa do festival, e que passou, depois desta noite, a contar com uma legião de fanáticos seguidores por aqui, incluso nisto este blogueiro que vos escreve. Neste primeiro dia a Cidade do Rock ainda não havia virado o lendário mar de lama. Fazia um céu de brigadeiro, e o calor ardentemente carioca só podia ser parcialmente amenizado após muitos copos de Malt 90 (mais conhecida por nós como "malte nojenta"), "cerveja" oficial do evento. A primeira de minhas cinco chegadas ao complexo roqueiro é uma imagem que jamais sairá da memória. Um rio de gente bonita, sorridente, feliz, ordeira, caminhava em absoluto deslumbramento pela rua de terra que nos levava aos portões da Cidade. A primeira visão das estruturas era impressionante, o impacto emocional e visual nos deixava atordoados. Ao me aproximar das roletas, comecei a ouvir os acordes daquele hino que já sabia de cor, que me embalou pelos dez dias que seguiram, e que me emociona até hoje, toda vez que o ouço. "Todos numa direção, uma só voz, uma canção...". Foda. Passando as roletas, mais um choque: a apoteótica visão daquele inacreditável palco, coisa nunca vista antes, nem parecido, por aqui. Fiquei assombrado, me lembro de ter começado a tremer de nervoso. Isso por que eu ia só assistir. Imaginem o estado dos brazucas que iam ter que subir naquele monstro e defender as cores do rock pátrio em frente àquelas quatrocentas mil pessoas. E, lembrem, alguns deles eram praticamente da minha idade, e há bem pouco estavam, como eu, do lado de cá do palco.

O resto todo mundo já sabe e está aí, para quem quiser conhecer ou relembrar, em qualquer livro de história que se preze. Fiquem agora com um momento único, retrato absoluto e fiel de uma época, e em especial deste dia inesquecível, glorioso, um dos mais importantes da minha vida. A abertura oficial do festival, na transmissão da Rede Globo. Não se acanhem. Deixem as lágrimas descerem sem culpa.

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