segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Férias: antepenúltimo dia

Eu sei que tudo que é bom dura pouco, mas assim também é ridículo. Mal iniciei o processo de descompressão do trabalho e já está quase na hora de voltar. Assim, no ocaso de meu merecido descanso, resolvi fazer alguma coisa interessante da minha segunda-feira. "Sherlock Holmes" me pareceu boa opção.

Saí de casa um pouco mais cedo para dar tempo de tomar o protocolar chopp no Belmonte antes de entrar no cinema. Já na pista para pegar o táxi, vi que esqueci de colocar o relógio. Olhei para a imensa calçada que me separava do meu prédio, pensei no elevador que teria que esperar chegar, no corredor até a porta, no longo caminho até o quarto, etc, e tudo isso me deu uma preguiça enorrrrme de voltar em casa. Tomei todo este processo como um sinal dos céus de que deveria comprar um relógio novo, imediatamente. Sim, este é exatamente o tipo de desprezo e descaso que tenho com meu parco dinheirinho. Decidi, então, ir caminhando até o cinema - uns doze quarteirões num escaldante sol de 35 graus, não sei onde estava com a cabeça - e dar uma olhada nas lojas para ver se achava um reloginho com a minha cara. Descobri uma coisa interessante. Sapatos fazem muito mais sucesso que relógios. No caminho me deparei com umas 73 lojas de sapatos, a maioria coalhada de consumidores ávidos a utilizar seu cartão de crédito. Lojas que vendem relógios, se encontrei cinco foi muito. E com uma preocupante presença de teias de aranha nas vitrines. Percebi claramente que em Copacabana ninguém mais está interessado em ver as horas. Ou pelo menos em ver as horas com o mínimo de estilo.

Toda esta busca vã pelo meu mais novo símbolo de status e consumismo me fez chegar "apenas" meia hora antes na bilheteria do cinema. Digo apenas porque ir ao cinema hoje em dia deixou de ser um processo simples como era antigamente. Algumas coisas contribuíram decisivamente para isso. Em especial esse ridículo procedimento de lugares marcados para sentar. Uma das coisas mais saudáveis e emocionantes de ir ao cinema era descobrir onde sentar. E depois mudar de lugar na hora em que bem quisesse se alguém muito espaçoso, chato, malcheiroso ou criança sentasse a seu lado. Pois isso tudo acabou. A gente tem que escolher com antecedência onde vai sentar. Isso elevou a categoria da fila do cinema ao mesmo patamar de bancos e agências do INSS. O processo de decidir onde sentar pode parecer simples a você, homem, classe média, nivel sócio-cultural mediano, razoavelmente bem alimentado na infância. Mas se você é uma mulher, classe média alta, com mais de sessenta anos, decidir onde sentar é tão difícil e merecedor de ponderação quanto escolher o cirurgião plástico de sua próxima lipoaspiração. E assim, filas do cinema andam na inversa proporção da quantidade de velhinhas endinheiradas nela contidas. O fato é que, contando a fila para comprar ingresso e a fila para comprar um refrigerante - velhinhas comprando e tentando carregar combos de refri e pipoca merecem um capítulo à parte, tratarei deste hilário momento circense em outra ocasião - entrei na sala em cima da hora da sessão. Fui contemplado com duas agradáveis companhias femininas dos dois lados. Simpáticas, silenciosas, e de gestos contidos. O melhor tipo de vizinho de cadeira. Com este talento, deviam alugar sua companhia para caras pentelhos como eu poderem ir ao cinema com uma garantia mínima de qualidade. Iam ganhar um troco.

E "Sherlock"? Mal 2010 começou e já ganhamos um forte candidato a melhor filme do ano. Mas e Avatar, perguntaria você, leitor atento do meu blog que lembrou que babei neste filme alguns post abaixo? Eu só o vi em 2010, mas Avatar tecnicamente é de 2009. Então não conta. O "Sherlock" do ex-marido da Madonna, Guy Ritchie, é ótimo. Eletrizante, divertido, e muito bem feito, me lembrou muito os filmes da série "Máquina Mortífera", repetido a clássica fórmula da dupla de detetives diferentes que se completam. Downey Jr e Law estão perfeitos em seus papéis, e a química entre os dois é tão forte que beira o homossexualismo. Ambos têm um interesse romântico no filme, mas a ligação entre os dois deixam as meninas em claro segundo plano. Um vilão bacana e uma história que mistura magia e corrupção completam o competente quadro. E a presença camuflada, depois estratégica e despretensiosamente relevada, do arquinimigo histórico de Holmes nos livros, o Professor Moriarty, quase nos garante uma continuação. Ainda bem. Nasce uma nova franquia de sucesso.

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