terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Too old to rock and roll

Acabo neste momento de ver, pela enésima vez, o filme "Almost Famous", semi-biografia do jornalista-diretor Cameron Crowe. Este é para mim um daqueles filmes irresistíveis, do tipo que toda vez que deparo com ele na tevê, grudo na tela e rererevejo até o final. Tem pelo menos três cenas antológicas:

- Stillwater e sua troupe cantando em coro, no ônibus da tournê, a música "Tiny Dancer" de Elton John, logo após uma carraspana épica protagonizada pelo guitarrista e astro da banda, Russel;
- A mágica troca de olhares entre William e Penny Lane minutos antes dele perder a virgindade com três deliciosas groupies;
- A cena em que William deixa escapar, em meio a uma discussão com Penny Lane, que ela acaba
de ser "cedida" por Russel à lendária banda Humble Pie em troca de cinquenta dólares e uma caixa de cerveja. A reação dela é linda e simplesmente sensacional. Duas lágrimas rolam por sua face. Ela as enxuga, e pergunta à William, candidamente: "Qual era a marca da cerveja?".

Isso é totalmente rock and roll.

Abordo o tema porque ainda estou um pouquinho incomodado com uma coisa que aconteceu comigo sexta-feira passada.

Li na Revista Programa do JB sobre uma nova casa noturna no Rio chamada Vertigo Lounge. Cato na internet e descubro que ela se auto-intitula a única do Rio 100%, genuinamente, rock and roll. Desculpem-me o óbvio trocadilho, mas isso soou como música para meus ouvidos. Uma boate (como dizíamos no meu tempo) só de R&R parecia local esquecido nesta cidade desde os 80's, quando tivemos a Metrópolis, a Mamão com Açucar, o Crepúsculo de Cubatão. Aguardei babando a noite para ir conferir o lugar.

Cheguei lá por volta da meia-noite. Fila razoavelmente extensa na porta. Odeio filas, de qualquer espécie e em qualquer circustância. Fui até a hostess, disse que ainda não conhecia a casa, que estava fissurado para ouvir um metal, e perguntei como fazia para entrar, na esperança que ela fosse muito com a minha cara e me deixasse passar à frente daquela turba ignara. Ela me apontou o fim da fila, sem qualquer cerimônia.

Como estava muito a fim, dei uma chance de cinco minutos na fila pra ver o que ia acontecer. Nada aconteceu. A fila não andou nem um milímetro. Desculpe, minto. Ela cresceu, para trás e para frente. Chegaram agregados aos que chegaram antes de mim. No sexto minuto, desisti temporariamente.

Como já havia me preparado psicologicamente para ouvir roquenrou, resolvi pagar uma etapa no Empório, e voltar um pouco mais tarde. Sempre podemos contar com o Empório quando o assunto é rock. Vou lá desde os dezessete, e hoje, vinte e seis anos depois, continuo indo lá. Que os deuses do Metal abençoem o Vicente, o highlander do Empório. Gerente da casa durante todos estes anos e ainda lá, vibrando, firme e forte, sendo rabugento com os clientes, como no primeiro dia em que o conheci. Tenho vontade de um dia escrever a história do Empório. Mas isso é assunto para outro post.

Fiquei lá até às duas, e resolvi tentar de novo o Vertigo. Já não havia mais fila. Tornei a hostess, e, com a simpatia e cordialidade que a Natureza me deu, comentei sorrindo:

"Parece que eu finalmente vou ouvir meu roquenrou agora."

A resposta veio curta, grossa, e misteriosa: "Só não sei se você vai gostar do ambiente."

Paguei para ver.

E não gostei. Não do ambiente. Da frequência. Em média dezenove anos de idade. Centenas de pessoas que deveriam gostar de hip-hop e música eletrônica estavam lá, ocupando precioso espaço de pessoas como eu, com idade suficiente para saber que a maior banda de todos os tempos seria composta por Page, Clapton, Entwistle e Peart.

Fiquei puto. Senti-me roubado em uma de minhas paixões mais antigas. Lá dentro pude perceber mais umas dois ou três semi-coroas na mesma situação que a minha. Encontrei-as no bar, comprando cerveja de latinha mantida morna acondicionadas nums isopores já mais cheios de água que de gêlo. Perguntei o que estavam achando do lugar. Estavam tão decepcionadas quanto eu.

Ficar velho é muito ruim. Até para fazer coisas que supostamente deveriam combinar com a sua idade.

Saímos juntos da "boate", uma hora depois que entrei. Quando passei pela hostess, ela sorriu sarcasticamente e não resistiu a me lançar um "eu te disse". Quando eu ia abrir a boca, ela, tentando ser simpática pela primeira vez naquela noite, completou:

"Vejo isso acontecer desde que este lugar abriu. Estamos pensando em fazer uma noite especial para as pessoas da sua idade."

Fiquei atônito. De imediato me imaginei no Baile da Saudade do Cordão do Bola Preta, dançando com velhinhas de andador. Só não mandei a hostess tomar no cu porque mamãe me deu alguma educação. E também porque o segurança ao lado dela era grande à beça.

Não volto lá nem no tal "dia especial". Se me quiserem de volta, que mandem estes moleques de volta para as raves tomar ecstasy com energético. E deixem o roquenrou para os velhos maconheiros como eu.

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