domingo, 6 de dezembro de 2009

É hoje

Finalmente chegou o domingo.

Foi uma longa, quase interminável, semana para nós rubronegros. A ansiedade está nas nuvens, o piriri de rolar uma tragédia inimaginável nos assombra, mas o clima está claramente positivo e o hexa, desta vez, parece que vai rolar.

A Nação está em polvorosa. Tem um débil mental aqui na minha rua que está incontrolável. Desde domingo passado ele não dorme, pelo menos à noite. Ele fica perambulando pelo bairro berrando "Mengo!" e bradando cânticos de torcida. Ontem, ele fez isso de 01:30 às 05:00 da manhã, em intervalos intermitentes que variavam entre três e cinco minutos. Sei disso porque mal dormi, muito em função do poderio vocal do elemento. Difícil precisar porque ele ainda está vivo e aparentemente sem qualquer sequela física, como escoriações generalizadas, hematomas pelo corpo ou traumatismo craniano. O carioca é mesmo um povo muito pacífico.

Quis o destino que justo nesta tensa semana que antecede a decisão eu, no trabalho, também vivesse uma espécie de semana decisiva. Isso tornou meus dias muito mais estressantes do que já seriam; mas pelo menos me permitiu não pensar em Flamengo o tempo todo, o que seria realmente cansativo, até potencialmente perigoso, eu diria. A obsessão poderia me levar à delírios paranóicos, eu desenvolveria teorias conspiratórias que envolveriam os interesses do futebol paulista, malas de diversas cores, vudu, sequestro dos familiares do Adriano e do Pet, e toda sorte de intempéries que poderiam colocar obstáculos entre o Mengão e o tão sonhado hexa.
Qualquer contusão de um terceiro reserva que nunca foi nem escalado no banco já seria visto por mim como um mau agouro medonho. Tenderia a querer combatê-lo com forças ocultas; posso até ver um altar rubro-negro em meu quarto, cheio de velas acesas, frangos decapitados, farofa amarela, e um boneco vestido de Grêmio com um espeto de tricô fincado no peito.

Mas porque isso tudo, diria um racional interlocutor? O Flamengo é franco favorito; o adversário é fraco; vem combalido, sem 2/3 do time titular; sua motivação pela vitória é nenhuma, até pelas circunstâncias que envolvem seu inimigo natural. Para qualquer outro time, isso já seria razão de sobra para passarem na CBF, pegar a taça e levá-la protocolarmente para o campo de jogo. Mas estamos falando aqui de Flamengo. Flamengo é uma outra coisa. Tem outra dimensão. Não somos apenas um time carioca. Só nascemos aqui. Hoje, 114 anos depois, pertencemos ao mundo. Ninguém quer que o Flamengo seja campeão, senão nós, flamenguistas. O Grêmio acha que prefere o Fla campeão ao Inter, por motivos óbvios, até entrar em campo e ver a Magnética urrando nas arquibancadas, empurrando o time pra cima. Neste momento, ali dentro, tudo torna-se possível. A chance de calar aquela multidão, e por consequência metade do Brasil, e de assombrar o mundo com um resultado inesperado e improvável, pode ser tentador demais para os molambos que trouxeram do sul para cá para serem supostamente sacrificados. Além do mais, desnecessário lembrar a plêiade de fracassos retumbantes que o Maraca já presenciou, vários deles protagonizados justamente pelo rubronegro. Portanto, não se enganem, o sufoco pode acontecer, e o hexa vai ter que ser conquistado em cada metro quadrado daquele campo. A boa notícia é que o Fla, por incrível que pareça, parece estar a uma precavida e providencial distância física e mental do oba-oba; mantêm-se focado, sério, na mais tradicional humildade retórica.

Se vamos triunfar não sei. Impossível prever minha reação caso isso aconteça. Não posso emburacar numa comemoração descontrolada e etilicamente aditivada, tenho uma reunião importantíssima amanhã às dez - infortúnio pouco é bobagem, e, antes que alguém me pergunte, não, não dava para desmarcá-la. Talvez um caso de morte na família justificasse. Droga, porquê não pensei nisso antes? Hoje, assim, em cima da hora, onde vou encontrar alguém que provicencie isso pra mim? Bem, deixa pra lá, digressiono. O fato que terei que ser comedido, e não sei se terei forças para isso. Sou muito grande, e, Flamengo hexacampeão, meu corpo sofrerá uma descarga overdósica de hormônios superestimulantes que transformará em tarefa inglória e hercúlea qualquer tentativa de controlá-lo. Temo que ele adquirirá vida independente do meu cérebro, pelo menos da parte racional dele, e o destino primal será o Clipper, no Leblon. De lá para onde, só o tempo e as circunstâncias podem dizer.

Bem, consegui meu intento e consumi 50 minutos deste domingo com alguma atividade que não seja expelir ácido gástrico em meu estômago remoendo o porquê não deu 17 horas ainda.

Torçam por mim e pelo meu time. Pra cima deles, Mengão.

2 comentários:

  1. Só uma palavra: H E X A !
    quem quiser ... corre atras !
    6 Sds RN!

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  2. HEXACAMPEÃO! FOI SOFRIDO MAS DE VIRADA É MAIS GOSTOSO! SAI DO CHÃO, SAI DO CHÃO! PARABÉNS!

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