Ave, César

Depois de alguns anos difícieis, finalmente a Nação volta a viver numa monarquia. Depois do rei Zico e do príncipe Romário, agora entramos numa era imperial. Como bem disse o locutor do Sportv ao narrar o segundo gol do Mengão: "Súditos rubronegros, eis o Imperador!"

O Adriano não é um simples jogador de futebol. É uma força da natureza. Ele não é o Imperador só porque é melhor que os outros. É porque ele é maior. É superior. Se futebol fosse boxe, ele não podia jogar com o resto dos caras que estavam em campo hoje. Ele é de outra liga.

Ele está fora de forma, dizem. Não sei se quero vê-lo em forma. Acho que vai ser constrangedor para os outros jogadores. E eu odeio sentir vergonha alheia.

O homem conseguiu a façanha de estar bem colocado em TODOS os ataques que o Flamengo fez no jogo. Se não fôsse o goleirinho do Ventania, que pegou tudo e mais um pouco, e o Gaciba, que inventou um pênalti no Márcio Azevedo - um azougue, por sinal, infernizou a gente pelo lado direito de nossa defesa - o resultado teria sido um merecido massacre.

Adriano fez os dois gols - o primeiro, que os burocratas do futebol vão insistir que foi contra, só saiu pelo verdadeiro pânico, paúra, terror profundo, que a simples presença do titã na área inflige aos pobres e indefesos zagueiros. Além disso, deu ótimos passes, com destaque aos que presenteou Toró e Everton, que, totalmente imerecedores de jogarem ao lado de Vossa Majestade, desperdiçaram vergonhosa e bisonhamente. Não precisava, ou melhor, nem devia, mas deu carrinho, roubou bola, e correu os noventa e quatro minutos que a partida durou. E ainda, do alto de sua magnânima bondade, esbanjou simpatia e comiseração com os adversários que imprudentemente insistiam em tentar marcá-lo, o que é mais ou menos como querer derrubar um muro de concreto às ombradas.

Diante de tão implacável e avassaladora demonstração de superioridade, criou-se uma questão. O restante da corte agora tem real obrigação de se esfalfar, a cada jogo, para fazer por merecer a honra de jogar em tão nobre companhia.