domingo, 19 de julho de 2009

Imortal

Levei ontem à noite um bom amigo que fiz recentemente, e que mora em Paris, ao meu bar predileto. Predileto desde sempre, e que felizmente ainda está lá, vivo e próspero, no mesmo lugar, ecoando alto o mesmo velho e bom roquenrou. Não há como ter muita certeza, minha memória já corroída pelo álcool não me permite nenhuma precisão. Mas segundo estudos arqueológicos feitos com ajuda de carbono 14 podemos estimar que conheço o Empório há, pelo menos, vinte e cinco anos. Já escrevi algumas vezes sobre este bar. Até no meu livro ele está - sim, escrevi um livro, ele existe, é real, pode-se pegar nele, chama-se Perturbados, e ninguém leu. Voltando ao Empório, ele faz parte da minha vida, como uma doença crônica. Não enxergo minha existência sem ele. Vou lá pouco: na média de uma vez por mês. Mas não posso deixar de ir. São minhas doses medicinais e regulares de Empório, recomendadas para que eu mantenha a sanidade neste mundo de pagodes, axés, forrós, funks, pancadões e outras "músicas" que se ouvem com os quadris, não com os ouvidos.

Pouca coisa mudou no Empório nestes anos todos. Agora ele é laranja; não era, mas também não me lembro de sua cor original. O chopp melhorou, até porque piorar seria impossível. O chopp do Empório nos velhos tempos pode ser considerado um dos dez piores da história dos chopps. Para terem uma idéia, era Kaiser. E quente. Intragável. Não fôssem as maravilhosas garçonetes que invariavelmente transportavam o veneno de lá pra cá, jamais mereceria ser consumido. Digressiono. Meu assunto aqui é mais específico do que velhas reminiscências. Hoje quero falar do Vicente. Afinal, o que é o Vicente?

Para as três pessoas no Rio de Janeiro que ainda não o conhecem, aquela figura assustadora da foto acima é o Vicente. Desde o início dos tempos esta peça é o gerente do Empório. Desconfio seriamente que ele já era gerente do Empório antes mesmo do Empório existir. Muita gente diz que ele é a cara do Empório. Ledo engano. O Empório que é a cara dele. O Vicente está ali, encruado, do granito das mesas às bundinhas das garçonetes. É nosso eterno homem de preto. Jamais o vi envergando outra cor. No impensável dia em que ele, num ato desesperado, viesse a vestir algo, suprema heresia, branco, a ordem natural das coisas seria subvertida, não sei se o planeta suportaria.

Se já não tivesse encontrado Vicente à luz do dia - sim, aconteceu uma vez - teria sérias suspeitas de que ele é um vampiro, tal sua longevidade e estado de conservação. Vampiro do bem, tipo os bonzinhos de Crepúsculo. Hei, eles andam à luz do dia! Quem sabe? Outra teoria é que ele é um Highlander. Praticamente posso ver a cena: Connor MacLeod irrompendo o Empório atrás do Vicente, brandindo sua espada espanhola e gritando "There can be only one!"

Vida longa ao inesgotável Vicente e a seu bar espetacular. Lá, me sinto mais eu do que em qualquer outro lugar.

4 comentários:

  1. Ótimo post, mas c 2 pequenos equívocos, 1) o vicente n é o gerente de lá e sim a dinha, aquela q fica no balcão, pilotando a caixa registradora. e 2) sim, o vicente usa branco!!! já o vi vestido desta cor um dia, n me lembro bem onde, mas ele usa outra cor q n a preta. Viu, o mundo n acabou, hehehehehe!!!
    Abs!

    ResponderExcluir
  2. Valeu, Marcello, pelos esclarecimentos! Se Vicente não é gerente, deveria ser. E se ele um dia usou branco, deve ter tido algum tipo de supressão de sentidos... Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Ou então era o irmão gêmeo do mal... hahahahaha!!!

    ResponderExcluir
  4. O Vicente faleceu ontem... O velorio ta rolando agora no Sao Joao Batista e o enterro sera as 15 hs...

    ResponderExcluir